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sexta-feira, 29 de março de 2013

Suportar sem murmurar

Perguntais se é permitido abrandar as vossas provas. Essa pergunta lembra estas outras.
É permitido ao que se afoga procurar salvar-se?
E a quem se espetou num espinho, retira-lo?
Ao que está doente, chamar um médico?
As provas têm por fim exercitar a inteligência, assim como a paciência e a resignação. Um homem pode nascer numa posição penosa e difícil, precisamente para obriga-lo a procurar os meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em suportar sem murmurações as consequências dos males que não se podem evitar, em perseverar na luta, em não se desesperar quando não se sai bem, e nunca em deixar as coisas correrem, que seria antes preguiça que virtude.
Essa questão nos conduz naturalmente a outra. Desde que Jesus disse "Bem-aventurados os aflitos", há mérito em procurar as aflições, agravando as provas por meio de sofrimentos voluntários? A isso repondo muito claramente: Sim, é um grande mérito, quando os sofrimentos e as privações têm por fim o bem do próximo, porque se trata de caridade pelo sacrifício; não, quando eles só têm por fim o bem próprio, porque se trata de egoísmo pelo fanatismo.
Há grande distinção a fazer. Quando a vós, pessoalmente, contentai-vos com as provas que Deus vos manda, não aumenteis a carga já por vezes bem pesada; aceitai-as sem queixas e com fé tudo o que Ele vos pede. Não enfraqueçais o vosso corpo com privações inúteis e macerações sem propósito, porque tendes necessidade de todas as vossas forças, para cumprir vossa missão de trabalho na Terra. Torturar voluntariamente, martirizar o vosso corpo, é infringir a lei de Deus, que vos dá meios de sustentá-lo e de fortalecê-lo. Debilitá-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis: tal é a lei. O abuso das melhores coisas traz as suas punições, pelas consequências inevitáveis.

Suportar o frio e a fome

Bem outra é a questão dos sofrimentos que uma pessoa se impõe para aliviar o próximo. Se suportardes o frio e a fome, para agasalhar e alimentar aquele que necessita, e vosso corpo sofre com isso, eis um sacrifício que é abençoado por Deus. Vós, que deixais vossos toucadores perfumados para levar consolação aos aposentados infectos; que sujais vossas mãos delicadas curando chagas; que vos privais do sono para velar à cabeceira de um doente que é vosso irmão em Deus; vós, enfim, que aplicais a vossa saúde na prática das boas obras, tendes nisso o vosso cilício, verdadeiro cilício de bênçãos, porque as alegrias do mundo não ressecaram o vosso coração. Vós não adormeceste no seio das voluptuosidades enlanguecedoras da fortuna, mas vos transformastes nos anjos consoladores dos pobres deserdados.
Mas vós que vos retirais do mundo para evitar suas seduções e viver no isolamento, qual a vossa utilidade na Terra?
Onde está a vossa coragem nas provas, pois que fugis da luta e desertais do combate? Se quiserdes um cilício, aplicai-o à vossa alma e não ao vosso corpo; mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho; recebei as humilhações sem vos queixardes; machucai vosso amor-próprio; insensibilizai-vos para a dor da injúria e da calúnia, mais pungente que a dor física. Eis aí o verdadeiro cilício, cuja feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submisão à vontade de Deus.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

quinta-feira, 28 de março de 2013

Felicidade e Tristeza

Sabeis porque uma vaga tristeza se apodera por vezes de vossos corações, e vos faz sentir a vida amargada?
É o vosso Espírito que aspira à felicidade, mas, ligado ao corpo que lhe serve de prisão, se cansa em vãos esforços para escapar. E, vendo que esses esforços são inúteis, cai no desânimo, fazendo o corpo sofrer sua influência, com a languidez o abatimento e uma espécie de apatia, que de vós se apoderam, tornando-vos infelizes.
Acreditai no que vos digo e resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. Essas aspirações de uma vida melhor são inatas no Espírito de todos os homens, mas não a busqueis neste mundo. Agora, que Deus vos envia os Espíritos, para vos instruírem sobre a felicidade que vos está reservada, esperai pacientemente o anjo da libertação, que vos ajudará a romper os laços que mantêm cativo o vosso Espírito. Pensai que tendes a cumprir, durante vossa prova na Terra, uma missão de que já não podeis duvidar, seja pelo devotamento à família, seja no cumprimento dos diversos deveres que Deus vos confiou.
E se, no curso dessa prova, no cumprimento de vossa tarefa, virdes tombarem sobre vós os cuidados, as inquietações e os pesares, sêde fortes e corajosos para os suportar. Enfrentai decisivamente pois são de curta duração e devem conduzir-vos junto aos amigos que chorais, que se alegrão com a vossa chegada e vos estenderão os braços, para vos conduzirem a um lugar onde não têm acesso as amarguras terrenas.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

quarta-feira, 27 de março de 2013

Vós que chorais

Tende esperança, vós que chorais! Tremei, vós que rides, porque tendes o corpo satisfeito! Não se pode enganar a Deus; ninguém escapa ao destino. As provas, credoras mais impiedosas que a malta que nos acossa na miséria, espreitam o vosso repouso ilusório, para vos mergulhar de súbito na agonia da verdadeira desgraça, daquele que surpreende a alma enlanguescida pela indiferença e o egoísmo.
Que o Espiritismo vos esclareça, portanto, e restabeleça sob a verdadeira luz a verdade e o erro, tão estranhamente desfigurados pela vossa cegueira. Então, agireis como bravos soldados que, longe de fugir ao perigo, preferem a luta nos combates arriscados, à paz que não oferece nem glória nem progresso. Que importa, àquele que tem fé no porvir, deixar a vida no campo de batalha, sua fortuna e sua veste carnal, contanto que sua alma possa entrar, radiosa, no reino celeste?
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

Verdadeira Desgraça

Todos falam da desgraça, todos a experimentaram e julgam conhecer o seu carácter múltiplo. Venho dizer-vos, porém, que quase todos se enganam, pois a verdadeira desgraça não é, de maneira alguma, aquilo que os homens, ou seja, os desgraçados, supõem. Eles a vêem na miséria, na lareira sem fogo, no credor impaciente, no berço vazio do anjo que antes sorria, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e coração partido, na angústia da traição, na privação do orgulho que desejava vestir-se de púrpura e esconde sua nudez nos farrapos da vaidade. tudo isso, e muitas outras coisas ainda, chamam-se desgraça, na linguagem humana. Sim, realmente são uma desgraça, para aqueles que nada vêem além do presente. Mas a verdadeira desgraça está nas consequência de uma coisa, do que na própria coisa.
Dizei-me se o mais feliz acontecimento do momento, que traz funestas consequências, não é, na realidade, mais desgraçado que aquele inicialmente aborrecido, que acaba por produzir o bem? Dizei-me se a temperatura, que despedaça as árvores, mas purifica a atmosfera, dissipando os miasmas insalubres que poderiam causar a morte, não é antes uma felicidade que uma desgraça?
Para julgar uma coisa, é necessário, portanto, ver-lhe as consequências. É assim que, para julgar o que é realmente feliz ou desgraçado para o homem, é necessário transportar-se para além desta vida, porque é lá que as consequências se manifestam. Ora, tudo aquilo que ele chama desgraça, de acordo com a sua curta visão, cessa com a vida e tem sua compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a desgraça sob uma nova forma, sob a forma de bela e florida que acolheis e desejais, com todas as forças de vossas almas iludidas. A desgraça é a alegria, o prazer a fama, a fútil inquietação, a louca satisfação da vaidade, que asfixiam a consciência, oprimem o pensamento, confundem o homem quanto ao seu futuro. A desgraça, enfim, é o ópio do esquecimento, que buscais com o mais ardente desejo...
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

terça-feira, 26 de março de 2013

Felicidade na Terra.

O homem está incessantemente à procura da felicidade, que lhe escapa a todo instante, porque a felicidade sem mescla não existe na Terra. Entretanto, apesar das vicissitudes que formam o inevitável cortejo desta vida, ele poderia pelo menos gozar de uma felicidade relativa. Mas ele a procura nas coisas perecíveis, sujeitas à mesmas vicissitudes, ou seja, nos gozos materiais, em vez de buscá-la nos gozos da alma, que constituem uma antecipação das imprescindíveis alegrias celestes. Em vez de buscar a paz do coração, única felicidade verdadeira neste mundo, ele procura com avidez tudo o que pode agitá-lo e perturbá-lo. E, coisa curiosa, parece criar de propósito os tormentos, que só a ele cabia evitar.
Haverá maiores tormentos que os causados pela inveja e o ciúme? Para o invejoso e o ciumento não existe repouso sofrem ambos de uma febre incessante. As posses alheias lhes causam insónias; os sucessos dos rivais lhes provocam vertigens; seu único interesse é o de eclipsar os outros; toda a sua alegria consiste em provocar, nos insensatos como eles a cólera do ciúme. Pobres insensatos, com efeito, que não se lembram de que, talvez amanhã, tenha de deixar todas as futilidades, cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles que se aplicam estas palavras: "Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados", pois os seus cuidados não têm compensação no céu.
Quantos tormentos, pelo contrário, consegue evitar aquele que sabe contentar-se com o que possui, que vê sem inveja o que não lhe pertence, que não procura parecer mais do que é! Está sempre rico, pois, se olha para baixo, em vez de olhar para cima de si mesmo, vê sempre os que possuem menos do que ele. Está sempre calmo, porque não inventa necessidade absurdas, e calma em meio das tormentas da vida não será uma felicidade?

segunda-feira, 25 de março de 2013

Um homem de bem morreria.

Dizeis frequentemente, ao falar de um malvado que escapa a um perigo: Se fosse um homem de bem, teria morrido. Pois bem, ao dizer isso, estais com a verdade, porque, efetivamente Deus concede muitas vezes, a um Espírito ainda jovem na senda do progresso, uma prova mais longa que a um bom, que receberá, em recompensa ao seu mérito, o favor de uma prova tão curta quanto possível. Assim, pois, quando empregais este axioma, não duvideis de que estais cometendo uma blasfémia.
Se morre um homem de bem, vizinhos de um malvado, apressai-vos a dizer: Seria bem melhor se tivesse morrido aquele. Cometeis então um grande erro, porque aquele que parte terminou a sua tarefa, e o que ficou talvez nem a tenha começado. Por que então, quereis que o mau não tenha tempo de acabá-la, e que o outro continue preso à gleba terrena? Que diríeis de um prisioneiro que, tendo concluído a sua pena, continuasse na prisão, enquanto se desse a liberdade a outro que não tinha direito? Ficai sabendo, pois, que a verdadeira liberdade está no despojamento dos laços corporais, e que enquanto estais na Terra, estais em cativeiro.
Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender, e crede que Deus é justo em todas as coisas. Frequentemente  o que vos parece um mal é um bem. Mas as vossas faculdades são tão limitadas, que o conjunto do grande todo escapa aos vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por superar, pelo pensamento, a vossa estreita esfera, e à medida que vos elevardes, a importância da vida terrena diminuirá aos vossos olhos. Porque, então, ela vos aparecerá como um simples incidente, na infinita duração da vossa existência espiritual, a única verdadeira existência.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

sábado, 23 de março de 2013

Morte em tenra idade I.

É uma terrível desgraça, dizeis, que uma vida tão cheia de esperança seja cortada tão cedo! Mas de que esperanças quereis falar? Das esperanças da Terra onde aquele que se foi poderia brilhar, fazer sua carreira e sua fortuna? Sempre essa visão estreita, que não consegue elevar-se acima da matéria! Sabeis qual teria sido a sorte dessa vida cheia de esperanças, segundo entendeis? Quem vos diz que ela não poderia estar carregada de amarguras? Considerais como nada as esperanças da vida futura, preferindo as da vida efémera que arrastais pela terra? Pensais, então, que mais vale um lugar entre os homens que entre os Espíritos bem-aventurados?
Regozijai-vos em vez de chorar, quando apraz a Deus retirar um de seus filhos deste vale de misérias. Não é egoísmo desejar que ele fique, para sofrer connosco? Ah! essa dor se concebe entre os que não têm fé, e que vêem na morte a separação eterna. Mas vós, espíritas, sabeis que a alma vive melhor quando livre do seu invólucro corporal. Mães, sabeis que vossos filhos bem-amados estão perto de vós: sim, eles estão bem perto; seus corpos fluidicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, vossa lembrança os inebria de contentamento; mas também as vossas dores sem razão os afligem, porque revelam uma falta de fé e constituem uma revolta a vontade de Deus. Vós que compreendeis a vida espiritual, escutais as pulsações de vosso coração, chamado esses entes queridos. E se pedirdes a Deus para os abençoar, sentireis em vós mesmas a consolação poderosa que faz secarem as lágrimas, e essas aspirações sedutoras, que vos mostram o futuro prometido pelo Soberano Senhor.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

sexta-feira, 22 de março de 2013

Morte em tenra idade.

Quando a morte vem ceifar em vossas famílias, levando sem consideração os jovens em lugar dos velhos, dizeis frequentemente: "Deus não é justo, pois sacrifica o que está forte e com futuro pela frente, para conservar os que já viveram longos anos, carregados de decepções; leva os que são úteis, e deixa os que não servem para nada mais; fere um coração de mãe, privando-o da inocente criatura que era toda a sua alegria."
Criaturas humanas, é nisto que tendes necessidade de vos elevar, para compreender que o bem está muitas vezes onde pensais ver a cega fatalidade. Por que medir a justiça divina pela medida da vossa? Podeis pensar que o Senhor dos Mundos queira, por um simples capricho, infligir-vos penas cruéis? Nada se faz sem uma finalidade inteligente, e tudo o que acontece tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos atingem, sempre encontraríeis nelas a razão divina razão regeneradora, e vossos miseráveis interesses representariam uma consideração secundária, que relegaríeis ao último plano.
Acreditai no que vos digo: a morte é preferível, mesmo numa encarnação de vinte anos, a esses desregramentos vergonhosos que desolam as famílias respeitáveis, ferem um coração de mãe, e fazem branquear antes do tempo os cabelos dos pais. A morte prematura é quase sempre um grande benefício, que Deus concede ao que se vai, sendo assim preservado das misérias de vida, ou das seduções que poderiam arrastá-lo à perdição. Aquele que morre na flor da idade não é uma vítima da fatalidade, pois Deus julga que não lhe será útil permanecer mais tempo na Terra.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

quinta-feira, 21 de março de 2013

Felicidade efémera.

Aquilo em que consiste a felicidade terrena é de tal maneira efémera, para quem não se guie pela sabedoria, que por um ano, um mês, uma semana de completa satisfação, todo a resto da existência se passa numa sequência de amarguras e decepções. E notai, meus caros filhos, que estou falando dos felizes da terra, desses que são invejados pelas massas populares.
Consequentemente, se a morada terrena se destina a provas e expiações, é forçoso admitir que existem, além, moradas mais favorecidas, em que o Espírito do homem, ainda prisioneiro de um corpo material, desfruta em sua plenitude as alegrias inerentes à vida humana. Foi por isso que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores, para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão um dia gravitar, quando estiverdes suficientemente purificados e aperfeiçoados.
Não obstante, não se deduza das minhas palavras que a Terra esteja sempre destinada a servir de penitenciária. Não, por certo! Porque, do progresso realizado podeis facilmente deduzir o que será o progresso futuro, e das melhoras sociais já conquistadas, as novas e mais fecundas melhoras que virão. Essa é a tarefa imensa que deve ser realizada pela nova doutrina que os Espíritos vos revelaram.
Assim, pois, meus queridos filhos, que uma santa emulação vos anime, e que cada um dentre vós se despoje energicamente do homem velho. Entregai-vos inteiramente à vulgarização desse Espiritismo, que já deu início à vossa própria regeneração. É um dever fazer vossos irmãos participarem dos raios dessa luz sagrada. À obra, portanto, meus caros filhos! Que nesta reunião solene todos os vossos corações se voltem para esse alvo grandioso, de preparar para as futuras gerações um mundo em que felicidade não seja mais uma palavra vã.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

Não sou Feliz!!!

Não sou feliz! A felicidade não é foi feita para mim! Exclama geralmente o homem, em todas as posições sociais. Isto prova, meus caros filhos, melhor que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo". Com efeito, nem fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude em flor, são condições essenciais da felicidade. Digo mais: nem mesmo a reunião dessas três condições, tão cobiçadas, pois que ouvimos constantemente, no seio das classes privilegiadas, pessoas de todas as idades lamentarem amargamente a sua condição de existência.
Diante disso, é inconcebível que as classes trabalhadoras invejem com tanta cobiça a posição dos favorecidos da fortuna. Neste mundo, seja quem for, cada qual tem a sua parte de trabalho e de miséria, seu quinhão de sofrimento e desengano. Pelo que é fácil chegar-se à conclusão de que a terra é um lugar de provas e de expiações.
Assim, pois, os que pregam quem a terra é a única morada do homem, e que somente nela, e numa única existência, lhe é permitido alcançar o mais elevado grau de felicidade que a sua natureza comporta, iludem-se e enganam aqueles que os ouvem. Basta lembrar que está demonstrado, por uma experiência multissecular, que este globo só excepcionalmente reúne as condições necessárias à felicidade completa do indivíduo.
Num sentido geral, pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia, a cuja perseguição se lançam as gerações, sucessivamente sem jamais a alcançarem. Porque, se o homem sábio é uma raridade neste mundo, o homem realmente feliz não se encontra com maior facilidade.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

Por que murmurais?

Como desencarnados, quando vagueáveis no espaço, escolhestes a vossa prova, porque vos consideráveis bastante fortes para suportá-la. Por que murmurais agora? Vós, que pedistes a fortuna ou a glória, o fizestes para sustentar a luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes para lutar de alma e corpo contra o mal moral e físico, sebeis que quanto mais forte fosse a prova, mais gloriosa seria a vitória, e que se saísseis triunfantes, mesmo que vossa carne fosse lançada sobre um monturo, na ocasião da morte, ela deixaria escapar uma alma esplendente de alvura, purificada pela baptismo de expiação e do sofrimento.
Que remédio, pois, poderíamos dar aos que foram atingidos por obsessões cruéis e males pungentes? Um só é infalível: a fé, voltar os olhos para o céu. Se, no auge de vossos mais cruéis sofrimentos, cantardes em louvor ao senhor, o anjo de vossa guarda vos mostrará o símbolo da salvação e o lugar que deveis ocupar um dia. A fé é o remédio certo para o sofrimento. Ela aponta sempre os horizontes do infinito, ante os quais se esvaem os poucos dias de sombras do presente. Não mais nos pergunteis, portantanto, qual o remédio que curará tal úlcera ou tal chaga, esta tentação ou aquela prova. Lembai-vós de que aquele que crê se fortalece com o remédio da fé, e aquele que duvida um segundo da sua eficácia é punido, na mesma hora, porque sente imediatamente as angústias pungentes da aflição.
O Senhor pôs o seu selo em todos os que crêem nele. Cristo vos disse que a fé transporta montanhas. Eu vos digo que aquele que sofre e que tiver a fé como apoio, será colocado sob a sua proteção e não sofrerá mais. Os momentos mais dolorosos serão para ele como as primeiras notas de alegria da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira de seu corpo, que, enquanto este se torcer em convulsões, ela pairará nas regiões celestes, cantando com os anjos os hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão atendidas por Deus.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

domingo, 17 de março de 2013

Quem disse que isto é o Paraíso?

Vossa terra é por acaso um lugar de alegrias, um paraíso de delícias? A voz do profeta não soa ainda aos vossos ouvidos. Não clamou ele que haveria choro e ranger de dentes para os que nascessem neste vale de dores? Vós que nele viestes viver, esperais, portanto, lágrimas ardentes e penas amargas, e quando mais agudas e profundas forem as vossas dores, voltai os olhos ao céu e bendizei ao Senhor, por vos ter querido provar! Oh, Homens! não reconhecereis o poder de vosso Senhor, senão quando ele curar as chagas do vosso corpo e encher os vossos dias de beatitude e de alegria. Não reconhecereis o seu amor, senão quando ele adornar vosso corpo com todas as glórias, e lhe der o seu brilho e o seu alvor. Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Chegando ao último degrau da abjecção e da miséria, estendido sobre um monturo, ele chamou  Deus:" Senhor! Conheci todas as alegrias da opulência, e vós me reduzistes à mais profunda miséria! Graças, graças, meu Deus, por terdes querido provar o vosso servo!" Até quando os vossos olhos só alcançarão os horizontes marcados pela morte? Quando, enfim, vossa alma quererá lançar-se além dos limites do túmulo? Mas ainda que tivésseis de sofre uma vida inteira que seria isso, ao lado de eternidade de glória reservada àqueles que houver suportado a prova com fé, amor e resignação? Procurai, pois, a consolação para os vossos males no futuro que Deus vos prepara, e vós, os que mais sofreis, julgar-vos-eis os bem-aventurados da Terra.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

sábado, 16 de março de 2013

Sofrer bem ou mal...

Quando Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, porque deles é o Reino dos Céus", não se referia aos sofredores em geral, porque todos os que estão neste mundo sofrem, quer estejam num trono ou na miséria extrema, mas, ah! poucos sofrem bem, poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir ao Reino de Deus. O desânimo é uma falta; Deus vos nega consolações, se não tiverdes coragem. A prece é um sustentáculo da alma, mas não é suficiente por si só: é necessário que se apoie numa fé ardente na bondade de Deus. Tendes ouvido frequentemente que Ele não põe um  fardo pesado em ombros frágeis. O fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem. A recompensa será tanto mais esplendente, quanto mais penosa tiver sido a aflição. Mas essa recompensa deve ser merecida, e é por isso que a vida está cheia de tribulações.
(...) Deus vos envia a luta. Essa luta não é o fogo das batalhas, mas as amarguras da vida, onde muitas vezes necessitamos de mais coragem que em combate sangrento, pois aquele que enfrenta firmemente a inimigo poderá cair sob o impacto de um sofrimento moral. O homem não recebe nenhuma recompensa por essa espécie de coragem, mas Deus lhe reserva os seus louros e um lugar glorioso. Quando vos atingir um motivo de dor ou de contrariedade, tratai de elevar-vos acima das circunstâncias. E quando chegardes a dominar os impulsos da impaciência, da cólera ou do desespero, dizei, com justa satisfação: "Eu fui o mais forte!"
Bem-aventurados os aflitos pode, portanto, ser assim traduzido: Bem-aventurados os que têm a oportunidade de provar a sua fé, a sua firmeza, a sua perseverança e a sua submissão à vontade de Deus, porque eles terão centuplicadas as alegrias que lhes faltam na Terra e após o trabalho virá o repouso.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Suicidio

O Espiritismo tem ainda, a este respeito, outro resultado igualmente positivo, e talvez mais decisivo. Ele nos mostra os próprios suicidas revelando a sua situação infeliz, e prova que ninguém pode violar impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida. Entre os suicidas o sofrimento temporário, em lugar do eterno, nem por isso é menos terrível, e sua natureza dá o que pensar a quem quer que seja tentando a deixar este mundo antes da ordem de Deus. O espírita tem, portanto, para opor à ideia do suicídio, muitas razões: a certeza de uma vida futura, na qual ele sabe que será tanto mais infeliz quanto mais infeliz e mais resignado tiver sido na Terra; a certeza de que, abreviando a sua vida, chega a um resultado inteiramente contrário ao que esperava; que foge de um mal para cair noutro ainda pior, mais demorado e mais terrível; que se engana ao pensar que, ao se matar, irá mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo à reunião, no outro mundo, com as pessoas de sua afeição, que lá espera encontrar. De tudo isso resulta que o suicídio, só lhe oferecendo decepções é contrário aos seus próprios interesses. Por isso o número de suicídios que o Espiritismo impede é considerável, e podemos concluir que, quando todos forem espíritas, não haverá mais suicídios conscientes. Comparando, pois, os resultados das doutrinas materialistas e espírita, sob o ponto de vista do suicídio, vemos que a lógica de uma conduz a ele enquanto a lógica de outra o evita, o que é confirmado pela experiência.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo O Espiritismo" de Allan Kardec

Veneno Material

A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro, as ideias materialistas, em uma palavra, são os maiores incentivadores do suicídio: elas produzem a frouxidão moral. Quando vemos, pois, homens de ciência, que se apoiam na autoridade do seu saber, esforçarem-se para provar aos seus ouvintes ou aos seus leitores, que eles nada têm a esperar depois da morte, não o vemos tentando convencê-los de que, se são infelizes, o melhor que podem fazer é matar-se? Que poderiam dizer para afastá-los dessa ideia? Que compensação poderão oferecer-lhes? que esperanças poderão propor-lhes? Nada além do nada! De onde é forçoso concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva possível, mais vale atirar-se logo a ele, do que deixar para mais tarde, aumentando assim o sofrimento.
A propagação das ideias materialistas é, portanto, o veneno que inocula em muitos a ideia do suicídio, e os que se fazem seus apóstolos assumem uma terrível responsabilidade. Com o Espiritismo, a dúvida não sendo mais permitida, modifica-se a visão da vida. O crente sabe que a vida se prolonga indefinidamente para além do túmulo, mas em condições inteiramente novas. Daí a paciência e a resignação, que muito naturalmente afastam a ideia do suicídio. Daí uma palavra, a coragem moral.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo O Espiritismo" de Allan Kardec

domingo, 10 de março de 2013

Loucura

A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio. Com efeito a maior parte dos casos de loucura são provados pelas vicissitudes que o homem não tem forças de suportar. Se, portanto, graças à maneira por que o Espiritismo o faz encarar as coisas mundanas, ele recebe com indiferença, e até mesmo com alegria, os reveses e as decepções que em outras circunstâncias o levariam ao desespero, é evidente que essa força, que o eleva acima dos acontecimentos, preserva a sua razão dos abalos que o poderiam perturbar.
O mesmo se dá com o suicídio. Se exceptuarmos os que se verificam por força da embriaguez e da loucura, e que podemos chamar de inconscientes, é certo que, sejam quais forem os motivos particulares, a causa geral é sempre o descontentamento. Ora, aquele que está certo de ser infeliz apenas um dia, e de se encontrar melhor nos dias seguintes, facilmente adquire paciência. Ele só se desespera de não ver um termo para os seus sofrimentos. E o que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas aquele que não crê na eternidade, que pensa que tudo acaba com a vida, que se deixa abater pelo desgosto e o infortúnio  só vê na morte o fim dos seus pesares. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar as suas misérias pelo suicídio.
Texto retirado do livro " O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

Pagar a Divida

Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem é semelhante ao trabalhador que comparece no dia de pagamento. À uns, dirá o patrão. "Eis a paga do teu dia de trabalho." A outros, aos felizes da Terra, aos que vivem na ociosidade, que puseram a sua felicidade na satisfação do amor e dos prazeres mundanos, dirá: "Nada tendes a receber, porque já recebestes o vosso salário na Terra. Ide e recomeçai a vossa tarefa."
O homem pode abrandar ou aumentar o amargo das suas provas, pela maneira de encarar a vida terrena. Maior é o sofrimento, quando o considera mais longo. Ora, aquele que se coloca no ponto de vista da vida espiritual, abrange na sua visão a vida corpórea, como um ponto no infinito, compreendendo a sua brevidade, sabendo que esse momento penoso passa bem depressa. A certeza de um futuro próximo e mais feliz o sustenta e encoraja, se em vez de lamentar-se, ele agradece ao céu as dores que o fazem avançar. Para aquele que, ao contrário, só vê a vida corpórea, esta parece interminável, e a dor pesa sobre ele com todo o seu peso. O resultado da maneira espiritual de encarar a vida é a diminuição de importância das coisas mundanas, a moderação dos desejos humanos, fazendo o homem contentar-se com a sua posição sem invejar a dos outros, e sentir menos os seus reveses e decepções. Ele adquire, assim, uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo como à da alma, enquanto com a inveja, o ciúme e a ambição, entrega-se voluntariamente à tortura, aumentando as misérias e as angústias de sua curta existência.
Texto retirado do livro " O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

sábado, 9 de março de 2013

Feliz, do que sofre...

Pelas palavras: "Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados", Jesus indica, ao mesmo tempo, a compensação que espera os que sofrem e a resignação que nos faz bendizer o sofrimento, como o prelúdio da cura.
Essas palavras podem, também, ser traduzidas assim: deveis considerar-vos felizes por sofrer, porque as vossas dores neste mundo são as dívidas de vossas faltas passadas, e essas dores, suportadas pacientemente na Terra, vos poupam séculos de sofrimento na vida futura. Deveis, portanto, estar felizes por Deus ter reduzido vossas dívidas, permitindo-vos quitá-las no presente, o que vos assegura a tranquilidade para o futuro.
O homem que sofre é semelhante a um devedor de grande soma, a quem o credor dissesse: "Se ma pagares hoje mesmo a centésima parte, darei quitação do resto e ficarás livre: se não, vou perseguir-te até que pagues o último centavo." O devedor não ficaria feliz de submeter-se a todas as privações, para se livrar da dívida, pagando somente a centésima parte da mesma? Em vez de queixar-se do credor, não lhe agradeceria?
É esse o sentido das palavras: " Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados." Eles são felizes porque pagam suas dívidas e porque, após a quitação, estarão livres. Mas se, ao procurar quitá-las de um lado, de outro se endividarem  nunca se tornarão livres. Ora, cada nova falta aumenta a dívida, pois não existe uma única falta, qualquer que seja, que não traga consigo a própria punição, necessária e inevitável. Se não for hoje, será amanhã; se não for nesta vida, será na outra. Entre essas faltas, devemos colocar em primeiro lugar a falta de submissão à vontade de Deus, de maneira que, se reclamarmos das aflições, se não as acusarmos a Deus de injusto, contraímos uma nova dívida, que nos faz perder os benefícios do sofrimento. Eis por que precisamos recomeçar, exactamente como se, a um credor que nos atormenta, enquanto pagamos as contas, vamos pedindo novos empréstimos.
Texto retirado do livro"Evangelho Segundo O Espiritismo" de Allan Kardec

quinta-feira, 7 de março de 2013

Lembrar Vidas Passadas

É em vão que se aponte o esquecimento como um obstáculo ao aproveitamento da experiência das existências anteriores. Se Deus considerou conveniente lançar um véu sobre o passado, é que isso deve ser útil. Com efeito, a lembrança do passado traria inconvenientes muito graves. Em certos casos, poderia humilhar-nos estranhamente, ou então exaltar o nosso orgulho, e por isso mesmo dificultar o exercício do nosso livre-arbítrio. De qualquer maneira, traria perturbações inevitáveis às relações sociais.
O Espírito renasce frequentemente no mesmo meio em que viveu, e se encontra em relação com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenha feito. Se nelas reconhecesse as mesmas que havia odiado, talvez o ódio reaparecesse. De qualquer modo, ficaria humilhado perante aquelas pessoas que tivesse ofendido.
Deus nos deu, para nos melhorarmos, justamente o que necessitamos e nos é suficiente; a voz da consciência e as tendências instintivas; e nos tira o que poderia prejudicar-nos.
O homem traz, ao nascer, aquilo que adquiriu. Ele nasce exatamente como se fez. Cada existência é para ele um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi: se está sendo punido, é porque fez o mal, e suas más tendências atuais indicam o que lhe resta corrigir em si mesmo. É sobre isso que ele deve concentrar toda a sua atenção, pois daquilo que foi completamente corrigido já não restam sinais. As boas resoluções que tomou são a voz da consciência, que o adverte do bem e do mal e lhe dá a força de resistir às más tentações.
De resto, esse esquecimento só existe durante a vida corpórea. Voltando à vida espiritual o Espírito reencontra a lembrança do passado. Trata-se, portanto, apenas de uma interrupção momentânea como a que temos na própria vida terrena, durante o sono, e que não nos impede de lembrar, no outro dia, o que fizemos na véspera e nos anteriores.
Da mesma maneira, não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança do passado. Pode dizer-se que ele nunca a perde, pois a experiência prova que, encarnado, durante o sono do corpo, ele goza de certa liberdade e tem consciência de seus atos anteriores. Então, ele sabe por que sofre, e que sofre justamente. A lembrança só se apaga durante a vida exterior de relação. A falta de uma lembrança precisa, que poderia ser-lhe penosa e prejudicial às suas relações sociais, permite-lhe haurir novas forças nesses momentos de emancipação da alma, se ele souber aproveitá-los.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

Resignação e Sofrimento

Os Espíritos não podem aspirar à perfeita felicidade enquanto não estão puros: toda mancha lhes impede a entrada nos mundos felizes. Assim acontece com os passageiros de um navio tomado pela peste, aos quais fica impedida a entrada numa cidade, até que estejam purificados. É nas diversas existências corpóreas que os Espíritos se livram, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provas da vida fazem progredir, quando bem suportadas; como expiações, apagam as faltas e purificam; são o remédio que limpa a ferida e cura o doente, e quanto mais grave o mal, mais enérgico deve ser o remédio. Aquele, portanto, que muito sofre, deve dizer que tinha muito a expiar e alegra-se de ser curado logo. Dele depende, por meio da resignação, tonar proveitoso o seu sofrimento e não perder os seus resultados por causa de reclamações, sem o que teria de recomeçar.
Texto retirado do livro " O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

quarta-feira, 6 de março de 2013

Sofrer sem Murmurar

Não se deve crer, entretanto, que todo sofrimento por que se passa neste mundo seja necessariamente o indício de uma determinada falta: trata-se frequentemente de simples provas escolhidas pelo Espírito, para acabar a sua purificação e acelerar o seu adiantamento. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas a prova nem sempre é uma expiação. Mas provas e expiações são sempre sinais de uma inferioridade relativa, pois aquele que é perfeito não precisa de ser provado. Um Espírito pode, portanto, ter conquistado um certo grau de elevação, mas querendo avançar mais, solicita uma missão, uma  tarefa, pela qual será tanto mais recompensado, se sair vitorioso, quanto mais penosa tiver sido a luta. Esses são, mais especialmente, os casos das pessoas de tendências naturalmente boas, de alma elevada, de sentimentos nobres inatos, que parecem nada trazer de mau de sua precedente existência, e que sofrem com resignação crstã as maiores dores, pedindo forças a Deus para suportá-las sem reclamar. Podem-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam reclamações e levam o homem à revolta contra Deus.
O sofrimento que não provoca murmurações pode ser, sem dúvida, uma expiação, mas indica que foi antes escolhida voluntariamente de que imposto; é a prova de uma firme resolução, o que constitui sinal de progresso.
Texto Retirado do livro "O Evangelho Segundo O Espiritismo" de Allan Kardec

Destino Traçado

As atribulações da vida podem ser impostas aos Espíritos endurecidos, ou demasiado ignorantes para fazerem uma escolha consciente, mas são livremente escolhidas e aceites pelos Espíritos arrependidos, que querem reparar o mal que fizeram e tentar fazer melhor. Assim é aquele que, tendo feito mail a sua tarefa, pede para recomeçá-la, a fim de não perder as vantagens do seu trabalho. Essas tribulações portanto, são ao mesmo tempo expiações do passado, que castigam, e provas para o futuro, que reparam. Rendamos graças a Deus que na sua bondade, concede aos homens a faculdade da reparação, e não os condena irremediavelmente pela primeira falta.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

Causas das Aflições de Hoje

Mas se há males, nesta vida, de que o homem é a própria causa, há também outros que, pelo menos em aparência, são estranhos à sua vontade e parecem golpeá-lo por fatalidade. Assim, por exemplo, a perda de entes queridos(...) os acidentes que nenhuma providência pode evitar; os reveses da fortuna(...) doenças de nascença(...): as deformidades, a idiotia, a imbecilidade, ect.
Os que nascem nessas condições, nada fizeram, seguramente, nesta vida, para merecer uma sorte tão triste, sem possibilidade de compensação, e que eles não puderam evitar, sendo impotentes para modificá-las e ficando à mercê da comiseração pública. Por que, pois, esses seres tão desgraçados, enquanto ao seu lado, sob o mesmo teto e na mesma família, outros se apresentam favorecidos em todos os sentidos?
Que dizer por fim das crianças que morrem em tenra idade e só conheceram da vida o sofrimento? Problemas, todos esses que nenhuma filosofia resolveu até agora, anomalias que nenhuma religião pode justificar, e que seriam a negação da bondade, de justiça e da providência de Deus, segundo a hipótese da criação da alma ao mesmo tempo que o corpo, e da fixação irrevogável da sorte após a permanência de alguns instantes na Terra. Que fizeram elas, essas almas que acabam de sair das mãos do Criador, para sofrerem tantas misérias no mundo, e receberem, no futuro, uma recompensa ou uma punição qualquer, se não puderem seguir nem o bem nem o mal?
Entretanto, em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se admita a existência de um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora, a causa sendo sempre anterior ao efeito, e desde que não se encontra na vida atual é que pertence a uma existência precedente. (...) se não fizemos o mal nesta vida, é que o fizemos em outra. Esta é uma alternativa a que não podemos escapar, e na qual a lógica nos diz de que lado está a justiça de Deus.
O homem não é, portanto, punido sempre, ou completamente punido, na sua existência presente, mas jamais escapa às consequências das suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea, e se ele não expia hoje, expiará amanhã, pois aquele que sofre está sendo submetido à expiação do seu próprio passado. A desgraça que, à primeira vista, parece ser imerecida, tem portanto a sua razão de ser, e aquele que  sofre pode sempre dizer: "Perdoais-me, Senhor, porque eu pequei."
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

Sofrimento, Porque?

Os sofrimentos produzidos por causas anteriores são sempre, como os decorrentes de causas actuais, uma consequência natural da própria falta cometida. Quer dizer que, em virtude de uma rigorosa justiça distributiva, o homem sofre aquilo que fez os outros sofrerem. Se ele foi duro e desumano, poderá ser, por sua vez, tratado com dureza e desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer numa condição humilhante, se foi avarento, egoista, ou se empregou mal a sua fortuna, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer com os próprios filhos; e assim por diante.
É dessa maneira que se explicam, pela pluralidade das existências e pelo destino da Terra, como mundo expiatório que é, as anomalias da distribuição da felicidade e da desgraça, entre os bons e os maus neste mundo. Essa anomalia é apenas aparente, porque só encaramos o problema em relação à presente; mas quando nos elevamos, pelo pensamento, de maneira a abranger uma série de existências, compreendemos que a cada um é dedo o que merece, sem prejuízo do que lhe cabe no mundo dos Espíritos, e que a justiça de Deus nunca falha.
O homem não deve esquecer-se jamais de que está num mundo inferior, onde só é retido pelas suas imperfeições. A cada vicissitude, deve lembrar que, se estivesse num mundo mais avançado, não teria de sofrê-la, e que dele depende não voltar a este mundo, desde que trabalhe para se melhorar.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan kardec

domingo, 3 de março de 2013

Lei Humana e Divina...

A lei humana alcança certas falhas e as pune. O condenada pode então dizer que sofreu a consequência de que praticou. Mas a lei não alcança nem pode alcançar a todas as faltas. Ela castiga especialmente as que causam prejuízos à sociedade, e não as que prejudicam apenas os que as cometem. Mas Deus vê o progresso de todas as criaturas. Eis por que não deixa impune nenhum desvio do caminho recto. Não há uma só falta, por mais leve que seja, uma única infração à sua lei, que não tenha consequências forçosas e inevitáveis, mais ou menos desagradáveis. Donde se segue que, nas pequenas como nas grandes coisas, o homem é sempre punido naquilo em que pecou. Os sofrimentos consequentes são então uma advertência de que ele andou mal. Dão-lhe a experiência e o fazem sentir a diferença entre o bem e o mal, bem como a necessidade de se melhorar, para evitar no futuro o que já foi para ele uma causa de mágoas. Sem isso, ele não teria nenhum motivo para se emendar, e confiante na impunidade, retardaria o seu adiantamento, e portanto a sua felicidade futura.
(...):(por isso evite dizer dizer estas palavras) "Se no começo da vida eu soubesse o que hoje sei, quantas faltas teria evitado; se tivesse de recomeçar, eu me portaria de maneira inteiramente outra; mas já já não há mais tempo!"(...)(ou) "Perdi a minha vida." Mas, assim como para o trabalhador o sol nasce no dia seguinte, e começa uma nova jornada, em que pode recuperar o tempo perdido, para ele também brilhará o sol de uma vida nova, após a noite do túmulo, e na qual poderá aproveitar a experiência do passado e pôr em execução suas boas resoluções para o futuro.
Texto reirado do libro " O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

sexta-feira, 1 de março de 2013

Causas das Aflições

As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se quisermos, têm duas origens bem diversas, que importa distinguir; umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida.
Remontando à fonte dos males terrenos, reconhece-se que muitos são a consequência natural do carácter e da conduta daqueles que os sofrem. Quantos homens caiem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por mau comportamento ou não terem limitado os seus desejos!
Quantas uniões infelizes, porque resultaram dos cálculos do interesse ou da vaidade, nada tendo com isso o coração! Que de dissensões  de disputas funestas, poderiam ser evitadas com mais moderação e menos susceptibilidade! Quantas doenças e aleijões são o efeito da intemperança e dos excessos de toda ordem!
Quantos pais infelizes com os filhos, por não terem combatido as suas más tendências desde o princípio. Por fraqueza ou indiferença, deixaram que se desenvolvessem neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que ressecam o coração.(...)
Que todos os que têm o coração ferido pelas vicissitudes a as decepções da vida, interroguem friamente a própria consciência.(...)
A quem, portanto, devem todas essas aflições, senão a si mesmo? O homem é, assim, num grande número de casos, o autor de seus próprios infortúnios. Mas, em vez de reconhecê-los acha mais simples, e menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência, a falta de oportunidade, sua má estrela, enquanto, na verdade, sua má estrela é a sua própria incúria.
(...)
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo O Espiritismo" de Allan Kardec