Dizeis frequentemente, ao falar de um malvado que escapa a um perigo: Se fosse um homem de bem, teria morrido. Pois bem, ao dizer isso, estais com a verdade, porque, efetivamente Deus concede muitas vezes, a um Espírito ainda jovem na senda do progresso, uma prova mais longa que a um bom, que receberá, em recompensa ao seu mérito, o favor de uma prova tão curta quanto possível. Assim, pois, quando empregais este axioma, não duvideis de que estais cometendo uma blasfémia.
Se morre um homem de bem, vizinhos de um malvado, apressai-vos a dizer: Seria bem melhor se tivesse morrido aquele. Cometeis então um grande erro, porque aquele que parte terminou a sua tarefa, e o que ficou talvez nem a tenha começado. Por que então, quereis que o mau não tenha tempo de acabá-la, e que o outro continue preso à gleba terrena? Que diríeis de um prisioneiro que, tendo concluído a sua pena, continuasse na prisão, enquanto se desse a liberdade a outro que não tinha direito? Ficai sabendo, pois, que a verdadeira liberdade está no despojamento dos laços corporais, e que enquanto estais na Terra, estais em cativeiro.
Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender, e crede que Deus é justo em todas as coisas. Frequentemente o que vos parece um mal é um bem. Mas as vossas faculdades são tão limitadas, que o conjunto do grande todo escapa aos vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por superar, pelo pensamento, a vossa estreita esfera, e à medida que vos elevardes, a importância da vida terrena diminuirá aos vossos olhos. Porque, então, ela vos aparecerá como um simples incidente, na infinita duração da vossa existência espiritual, a única verdadeira existência.
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec
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