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quarta-feira, 27 de março de 2013

Verdadeira Desgraça

Todos falam da desgraça, todos a experimentaram e julgam conhecer o seu carácter múltiplo. Venho dizer-vos, porém, que quase todos se enganam, pois a verdadeira desgraça não é, de maneira alguma, aquilo que os homens, ou seja, os desgraçados, supõem. Eles a vêem na miséria, na lareira sem fogo, no credor impaciente, no berço vazio do anjo que antes sorria, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e coração partido, na angústia da traição, na privação do orgulho que desejava vestir-se de púrpura e esconde sua nudez nos farrapos da vaidade. tudo isso, e muitas outras coisas ainda, chamam-se desgraça, na linguagem humana. Sim, realmente são uma desgraça, para aqueles que nada vêem além do presente. Mas a verdadeira desgraça está nas consequência de uma coisa, do que na própria coisa.
Dizei-me se o mais feliz acontecimento do momento, que traz funestas consequências, não é, na realidade, mais desgraçado que aquele inicialmente aborrecido, que acaba por produzir o bem? Dizei-me se a temperatura, que despedaça as árvores, mas purifica a atmosfera, dissipando os miasmas insalubres que poderiam causar a morte, não é antes uma felicidade que uma desgraça?
Para julgar uma coisa, é necessário, portanto, ver-lhe as consequências. É assim que, para julgar o que é realmente feliz ou desgraçado para o homem, é necessário transportar-se para além desta vida, porque é lá que as consequências se manifestam. Ora, tudo aquilo que ele chama desgraça, de acordo com a sua curta visão, cessa com a vida e tem sua compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a desgraça sob uma nova forma, sob a forma de bela e florida que acolheis e desejais, com todas as forças de vossas almas iludidas. A desgraça é a alegria, o prazer a fama, a fútil inquietação, a louca satisfação da vaidade, que asfixiam a consciência, oprimem o pensamento, confundem o homem quanto ao seu futuro. A desgraça, enfim, é o ópio do esquecimento, que buscais com o mais ardente desejo...
Texto retirado do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" de Allan Kardec

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